segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sabedoria e Justiça Ontem e Hoje

“Levantando-me de madrugada para dar de mamar a meu filho, eis que estava morto; mas, reparando nele pela manhã, eis que não era o filho que eu dera à luz”. 1Reis 3.21


A narrativa bíblica nos informa que de madrugada uma mãe acostumada a dar de mamar para o seu bebê, percebe algo estranho. Àquela hora ele já devia ter chorado de fome! Com a intenção de amamentá-lo, pega-o no colo e sente seu corpo frio. O bebê está morto. A escuridão da noite aliada ao seu próprio desespero não a deixam ver que aquele que está morto não é o seu pequenino. Sua colega de casa, mãe de outro bebê, havia trocado o seu filho morto por um vivo. Mas, à luz do dia, a mãe enganada percebe a trapaça e clama por justiça.

A mãe falsa, achando que pode enganar até Salomão, é desmascarada pelo rei e sai frustrada e envergonhada com todo o ocorrido. Deus está do lado da verdade, jamais se comprometerá com o engano e a falsidade. Podemos ter certeza de que vai à nossa frente na luta pela justiça.

Os sentimentos da verdadeira mãe, pela dor da perda inexplicável do seu bebê, foram percebidos por Salomão, e foi o suficiente para que ele declarasse com total segurança o verdadeiro destino do bebê. Por algumas horas, esta mãe viveu um pesadelo. Por mais que alguém possa representar um sentimento, não dá para fingir o verdadeiro sentimento de carinho e amor de uma mãe tem pelo seu filho.

Nos nossos dias, as emoções, a dor, são colocadas de lado. O que vale são documentos, papéis assinados. Não acredito que Salomão, mesmo com toda a tecnologia de hoje, com os sofisticados testes de DNA, se deixaria levar por uma visão técnica que não leva em conta o afeto, e se apegaria a provas biológicas e científicas. A sabedoria era de Deus e não humana e é por isso que um choro, um cheiro, um sussurro, provava mais do que qualquer exame laboratorial.

Recebemos, em nossa casa, o Lar Acolhedor Projetos Filhos do Coração, em Teresópolis, RJ, crianças vítimas de toda sorte de maus-tratos e violência. Muitas vieram de situação de risco social total. Parece inacreditável que crianças tenham que passar por tanto desprezo. Por trás de cada mazela, está uma família cheia de desencontros. Junto estão os desajustes sociais dessa sociedade injusta, que dá boas condições para alguns e nenhuma para muitos.

Meu olhar é de sofrimento, de muita dor. Essa dor é irmã do desespero porque o tempo na vida de uma criança faz muita diferença. A não ação implica em mais um dia de maus-tratos. Vencer a inércia significa lutar contra o pessimismo. Abusos cruéis são cometidos por muitos contra as nossas crianças. As feridas são profundas, que sangram e causam dores na alma. Parece não haver luz no fim do túnel, pois não há mais “Salomãos” para que com uma palavra tudo se resolva.

Nos nossos dias, são muitos os envolvidos nas decisões sobre o destino de uma criança: parentes próximos, conselheiros tutelares, guardiães provisórios, assistentes sociais, psicólogos judiciais, advogados e promotores, e claro, o próprio juiz de direito. É tarefa penosa e exaustiva.

As criancinhas (de 0 a 5 anos) confiadas a nós são consagradas a Deus, recebem a unção da bênção dos nossos pastores. Regamos esse campo fértil com muita oração e não temos dúvidas de que tocamos o próprio Senhor Jesus ao tocar nelas. Não somos a mãe cujo filho vivo foi trocado por um morto, mas às vezes somos usados por Deus para pleitear a sua causa. Não somos a mãe que ousou roubar o filho da colega, e às vezes temos de lutar contra ela em favor da criança. Não temos Salomão à nossa disposição, mas temos um bom relacionamento com o juiz da nossa comarca e uma convicção profunda de que o Senhor vai à nossa frente.

No entanto, a carga emocional que recai sobre nós é pesada. Sei que somos apenas servos, e que a nossa voz e a nossa ação são conhecidas pelo Senhor. O fato de que a nossa dor, o nosso lamento, não se compara ao sofrimento dele por nós é um grande consolo para mim.

O Senhor Jesus, muito maior que Salomão, trabalha por meio das autoridades do poder judiciário e, não só decide o destino de uma criança, mas também tem o poder de curar a alma ferida e desfalecida, tanto a das crianças como também a nossa que sofremos com elas. Jesus é um doce amigo. Sua presença muda tudo. Nunca vou me esquecer de um irmão querido que me disse: “Quando você se sentir desanimado leia novamente os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João”. Esses homens relataram a história mais fascinante que já se passou na terra. Jesus é essa história. Ele, somente ele, pode acalentar a minha e a sua alma e trazer solução para toda e qualquer situação. Voltar às Escrituras é mergulhar novamente nos braços de Deus, onde recebemos total consolo e nos sentimos seguros para continuar lutando em favor dos pequeninos.

Por: Francisco Carlos Montoni

Deus os abençoe.

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